Com verba proveniente do Fid (Fundo Estadual de Defesa dos Interesses Difusos) em um aporte de R$ 3.246.000,00 da Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania do Estado, o projeto de revitalização em Quiririm, Taubaté-SP, tem como meta a preservação e reparação de danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, ao patrimônio histórico, turístico e paisagístico.
Alvo de opiniões divergentes, à favor e contra, a execução das obras que se iniciaram em março de 2016, vem incomodando alguns moradores que não concordam com algumas das mudanças. Em entrevista ao Portal Quiririm News, conversamos com a Secretária de Planejamento de Taubaté, Débora Andrade e com o arquiteto e urbanista do projeto Lincoln Noyori, em busca de detalhamentos do projeto como, conceitos e mudanças que podem ser feitas na execução.
Conceito:
Chegou a se falar em Quiririm como uma vila italiana, mas, não é com esse conceito que a revitalização será executada. Lincoln explica em que se inspirou na hora de criar o projeto.
“Inicialmente era fazer uma intervenção voltada para festa, mas que melhorasse a qualidade de vida dos turistas, mas também dos moradores durante o ano todo. Essa foi uma preocupação”, conta Lincoln, “A gente começa a trabalhar com algumas referências como a do tijolo, ele aparece em várias situações do projeto, desde o banco, até o piso da praça e tem um motivo, é pelas olarias”, explica o arquiteto e urbanista fazendo relação com as olarias de Quiririm, construídas por imigrantes italianos, que enfatiza, “Na pesquisa que eu fiz, descobri que as olarias de Quiririm foram responsáveis por boa parte dos tijolos usados em patrimônios históricos de Taubaté”.
Uma das preocupações dos moradores é a manutenção nestes novos materiais inseridos no calçamento e mobiliários, “A gente solicitou um tijolo requeimado, que tem uma resistência maior, lógico que tudo tem manutenção, que tipo de material não tem manutenção?”, ressalta.
Além das olarias, que são referências dos tempos de imigração, Quiririm atualmente se tornou um pólo gastronômico de Taubaté e por isso, de acordo com o arquiteto, uma referência sutil a gastronomia também será implantada.
“O paisagismo dos bancos, a intenção é trabalhar com flores mais baixas e ervas aromáticas, trabalhar com manjericão, alecrim, até com a salsinha que dá para compor esteticamente e é o que se trabalha na cozinha. A ideia é provocar sensorialmente e que vai criar um aspecto bacana, e que o morador pode usar. A ideia do banco também, fizemos o levantamento e existe um hábito em Quiririm de sentar na porta com banquinho, vamos trabalhar com essa ideia do banco”, explica Linconl.
Os novos bancos implantados na Av. Cel. Marcondes de Mattos, foram alvos de reclamação por parte de alguns moradores, que não gostaram do tamanho do banco, sendo por vezes comparados com “túmulos e cocheiras”.
Ruas estreitas e cruzamentos elevados:
Muito se vem debatendo no Distrito sobre a largura das esquinas nos cruzamentos elevados com a dificuldade de se dirigir com carros de passeio um pouco maiores. Segundo o arquiteto e a secretária, isso faz parte de um conceito mundial chamado “Calm Traffic“, que na tradução significa “tráfego calmo”.
“É importante levantar que um dos fatores que o nosso projeto foi escolhido, é justamente por priorizar a experiência do pedestre. Isso foi o que norteou de fato nosso projeto. Para que a gente tenha essa experiência do pedestre de uma forma agradável e segura, a gente alargou calçadas, criamos os bancos, a iluminação com postes menores”, exemplifica Linconl.
O “Calm traffic” são soluções dadas de mobilidade urbana que humanizam o tráfego, criando condições para que o veículo reduza a velocidade e estimule o deslocamento a pé.
“Então, a gente usou desses recursos, esses cruzamentos. Já faz com que o cara reduza e que perceba que o pedestre tem prioridade, na verdade o código brasileiro de trânsito já coloca o pedestre como prioridade”, afirma Linconl, que conclui, “Hoje existe uma preocupação do urbanismo contemporâneo de planejar a cidade para as pessoas, e por muito tempo a cidade foi planejada para automóveis”.
Possibilidade de alterações na execução do projeto:
Mesmo com todo o conceito da obra sendo explicado, a Secretária de Planejamento confirmou que algumas mudanças pontuais podem ser feitas e que para isso, precisa existir uma conversa com a população que não aprovou a largura e a elevação dos cruzamentos.
“Se a gente tiver que fazer ajustes em obra, a gente vai fazer. O executivo, ou seja, se vai ficar com um ou dois metros, muitas vezes é definido em obra. Na verdade quem acompanha esse ajustes é a Secretaria de Obras”, afirma Debora.
“A própria população está solicitando para que a gente reveja isso, e a empresa que esteja fazendo as obras dê a solução. Olha, vamos colocar um balizador, ou vamos fazer a curvatura (nas esquinas), esse tipo de ajuste pode ser feito com a Secretaria de Obras, a empresa e a própria população”, garante Debora Andrade.
Risco:
Apesar do sinal positivo para algumas alterações, o arquiteto Linconl destaca que existe um risco em se realizar muitas mudanças, “Esse é um recurso do Estado e deixamos bem claro para as pessoas, vocês estão correndo o risco de paralisar a obra e perder, e aí o Ministério Público vai querer saber o porquê de não ter feito. Existe esse risco, tem que ser muito cauteloso nessas mudanças”, alerta o arquiteto.
Assista o vídeo abaixo e entenda a reclamação dos moradores:
Palco e praça:
O palco de eventos do Distrito, que abriga uma das maiores festas da região, a Festa da Colônia Italiana, vai ser totalmente modificado e a demolição ja se iniciou.
“Essa é uma praça seca (espaço à frente do palco), ela não vai ter árvore até porque tem o palco, então tem um uso público e não pode haver obstrução”, conta Linconl.
Abaixo, é possível ver a planta do palco com palmeiras rabo de raposa ao redor da praça Mercedes Ponzoni, e no lado direito o projeto em 3D, que aproxima do resultado final da obra.
Na praça Antonio Naldi, as modificações aparecem no calçamento, também feito com tijolos requeimados e nos novos mobiliários. Consta no projeto a colocação de conjunto de mesas e bancos de concreto, lixeira em madeira e lixeiras recicláveis, bancos de madeira com encosto em ferro fundido, “playgroung” e equipamentos de ginástica, além do plantio de gramas e palmeira areca.
Secretaria de Obras:
Questionada sobre a sinalização das obras para veículos e pedestres que utilizam das ruas principais de Quiririm e ainda sobre a colocação das grelhas nas laterais dos cruzamentos elevados, a Secretaria de Obras informou que “A construtora disponibiliza a sinalização no canteiro de obras, contudo, essas placas estão sendo retiradas dos locais sem autorização. E com relação à colocação das grelhas, as mesmas estão sendo confeccionadas em caráter de urgência”, afirma em nota.
Representação no Ministério Público:
A moradora do Distrito e presidente da Associação Cultural Quiririm, Preta Valério, entrou com uma representação junto ao MP (Ministério Público), para que sejam fiscalizadas possíveis irregularidades na execução do projeto.
“O objetivo é que o MP abra uma Ação Civil Pública visando a adequação das obras. Que o MP venha a intentar uma ação civil pública, caso a prefeitura não resolva, administrativamente, todas as responsabilidades. O conteúdo também vem provar as irregularidades”, explica a também advogada Preta Valério.
A advogada acredita que a representação se faz necessária por diversos motivos, “Não só de acordo com a vontade dos moradores, mas principalmente que se cumpra a lei. As irregularidades apontadas no projeto atentam contra a própria lei de mobilidade urbana, aquele afunilamento é proibido por lei municipal”, destaca Preta Valério, que também se manifestou nas redes sociais com fotos das obras, que repercutiram em cerca de 370 compartilhamentos e inúmeros comentários.
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